Por Marie Vöckening

Oi gente,

fui convidada para escrever aqui um pouquinho sobre a literatura, então essa será a primeira postagem da @bibliomarie_ em lingua portuguesa. Quem me segue por algum tempo pela minha conta no instagram sabe que sou aficionada para duas coisas em particular: a literatura e as linguas estrangeiras.
Agora, no curso universitário de português tenho possibilidade de juntar as duas coisas e apresentar-lhes um livro muito interessante aqui no blog de língua dirigido pelo meu profesor de português: “kilinguabacana”.

O sol na cabeça – pelas ruas das favelasem treze contos

Escolhi para vocês uma coletânea de treze contos sobre a realidade nas favelas cariocas. O livro foi escrito no ano 2018 por um jovem escritor brasileiro que, narrando do ponto de vista “periférico”, tornou-se uma nova voz muito importante, e demasiado rara, no mundo litérario. Antes mesmo da publicação, “O sol na cabeça” foi vendido para editoras de nove países, como por exemplo para a Suhrkamp na Alemanha onde foi publicado sob o título “Aus dem Schatten”.

Sobre o autor e a obra

O autor de “O sol na cabeça”: Geovani Martins

Geovani Martins nasceu no Rio de Janeiro e cresceu nas mesmas partes pobres da cidade onde os contos dele têm lugar. Antes de escrever “O sol na cabeça”, ele trabalhou como homem-placa e atendente de lanchonete. A paixão pela literatura nasceu já na infância graças à sua avó.

Nos contos Martins descreve muito bem como as pessoas das favelas movem-se num “interespaço” entre o morro e o asfalto e como elas encontram-se em situações de preconceitos, violência e injustiça das quais se desenvolve um círculo vicioso de pobreza, droga e criminalidade. Portanto, os protagonistas de Martins (que são todos masculinos – que pena) apresentam-se tanto perpetradores quanto vítimas, os contos não acusam nem disfarçam. O tom do livro é típico da literatura realista –  pertinente, honesto e desilusido – que é reforçado através da linguagem crua e das gírias usadas pelo autor. Por causa disso, a obra de Martins é considerada uma parte do “novo realismo”.

A minha opinião sobre os contos

Embora eu ainda não tenha lido todos os contos, considero esso livro muito bom e apropriado para quem quer ler textos curtos em português e aprender algo sobre o Brasil e as diferenças sociais.
Até agora tenho dois contos bem diferentes dos quais gostei particularmente:
Em “Espiral” o jovem protagonista passando pela rua percebe que outras pessoas têm medo dele sem que ele fizesse nada. Somente vendo-o, as pessoas atravessam a rua, as pessoas idosas seguram as bolsas. Um dia ele aceita esse papel e começa a perseguir e intimidar essas pessoas.
Outro conto se chama “O caso da borboleta” e fala de um menino que na cozinha da avó descobre um animal maravilhoso que vive o sonho da criança: voar. Mas ninguém nasce borboleta…

É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio, com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante.
E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.